Não nasci com os genes certos. Falta-me uma beleza que não seja apenas diferente ou interior, falta-me uma personalidade que não seja apenas estranha. Até me faltam os genes das costas perfeitamente direitas nos raios-X. Também me faltam os genes que me permitem entender os sonhos. Vejo-nos a nós, humanos, tão pequenos e insignificantes, mas sempre com tanta necessidade de sonhar. De noite, de dia, a dormir ou acordados, sonhos enormes que nos permitem crescer para lá das nossas barreiras de tecidos biológicos enquanto algo no Universo não se encarrega de nos roubar ou os sonhos ou o corpo. Não nos entendo; não me entendo. E, apesar de tudo, eu nem sequer sonho em grande. Certamente, não de noite; essa não costuma passar de uma névoa escura indecifrável e incrivelmente rápida que decide sempre desvanecer no preciso momento em que os meus olhos se abrem em busca dela. Não, o meu único sonho maior só existia após o despertar e já o realizei, sem que ele me realizasse a mim. Foi desde então que aprendi a sonhar sobretudo em ponto pequeno e a curto prazo, sonhos que é quase certo tornarem-se realidade porque nunca vão além das liberdades que esta me dá. É esse o meu novo ponto de equilíbrio. Pelo meio, vou-me arrastando melancolicamente pelos espaços de uma faculdade na qual só me inscrevi precisamente para não ter de passar a vida só a sonhar com o dinheiro, mas sim a tê-lo nas mãos (a minha mente ingénua ainda prefere não considerar as variáveis crise, desemprego e pura má sorte na equação - parece que ainda sonho mais do que me apercebo).
Entretanto, outras pessoas há que entendem esta coisa de querer sempre sonhar alto. Tanto sonham que, eventualmente, o que antes era alto torna-se cada vez mais palpável, mais próximo, mais real. A minha grande falta de empatia é temporariamente colmatada sempre que essas pessoas ficam um passo mais perto do que procuram, tanto as pessoas que são muito próximas, como aquelas que se vão mantendo a uma distância evidente, mas segura. Eu fico... feliz por elas? Estou a sonhar. Seja quem for que me leia, fiquem só um bocadinho felizes também por osmose e dêem uma vista de olhos a este sonho abaixo que, ao contrário de nuvens que não querem chover, vai encontrando caminhos pelos quais pode bem vir-se a cumprir. E este é só um exemplo.
Miriam Furtado - Artista Plástica
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Entrevista RTP com a artista:
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